sábado, 1 de janeiro de 2011

O prólogo do fim

São três da tarde do último dia do ano. Acabei de regressar de um almoço de amigos e tenho de voltar ao trabalho acumulado. Estou contrariado. Porque vou ter de ir trabalhar e não me apetece rigorosamente nada fazê-lo e porque tenho algumas preocupações particulares que me têm trazido de algum modo mais nervoso do que o habitual. Quando pego no telefone e informo a minha rede em tom de brincadeira: "Tenho de ir trabalhar, mas informo desde já que vou contrariado", estou longe de imaginar que esta vai ser uma tarde que terminará de forma diferente. Resolvido o meu primeiro problema de agenda, dou uma olhadela ao Twitter e percebo que há tweets de vitória, relacionados com o caso Ensitel. Precipito-me para links e fontes e é de forma atabalhoada que cruzo na diagonal os primeiros indícios, até aterrar no comunicado da empresa que leio com sofreguidão. Tenho aliás de o reler várias vezes, pois não quero me escape um detalhe que seja, não pode ser falso, a vista não me pode trair, não pode ser uma mentira cruel. Não pode. Ponto.

Ela tem de saber disto. Tem mesmo. E é de telefone na mão que repito mentalmente "Tu atende, caraças, tu atende-me a chamada" e fica a nota mental para o sistema de busca de nomes e números do iPhone que me fez saltar o número dela no primeiro lugar da lista quando primo a letra M. Ainda dizem que há coincidências.

Está no carro. Parece-me que está no carro. É-me absolutamente indiferente onde ela esteja, é-me absolutamente indiferente com quem esteja. Estou emocionado, tenho os olhos molhados de lágrimas de alegria e não tenho tempo nem condições de preparar a notícia: "Maria João, é com lágrimas nos olhos que te anuncio que a Ensitel retirou o processo judicial, a queixa, a providência!". Sim, tenho os olhos molhados mas de uma alegria incontida. Há um silêncio assustador do outro lado que é quebrado por um suspiro que só aqueles que passam por circunstâncias deste tipo alguma vez poderão perceber. Não é uma história longa, mas é uma coisa intensa, muito intensa, cujo peso real só é perceptível por quem vive este género de acontecimentos na primeira pessoa.

É assim, à bruta, que ela toma conhecimento do estado das coisas neste conflito. É assim, à bruta, que eu percebo que sou o primeiro a dar-lhe a notícia, enquanto lhe leio o comunicado, martelando cada frase para que a ela lhe não escape o essencial. "É duplamente saboroso dar-te esta notícia e saber que sou o primeiro a fazê-lo. Eu sabia!. Eu sabia que eles não aguentavam a pressão por mais tempo. Parabéns! Agora corre para um computador e aceita um conselho, o único que te posso dar neste momento: Sê magnânima na vitória!". Trocamos mais algumas palavras de circunstância. Eu estou a fazer-me de forte para não desatar a chorar. Antes de desligar ouvi uma voz no interior do carro que pergunta ansiosamente "O que é que aconteceu? O que é que aconteceu?"

Quando respiro fundo, finalmente, sorrio a imaginar o turbilhão de emoções que lhe há-de ir na cabeça.

Tlim, tlim Xabregas!

Vinte uma horas, mais coisa menos coisa de Segunda Feira, dia 27, com todos nós a anos-luz da génese deste assunto, há uma notícia/tweet do Jornal Público que me tira literalmente do sério. Uma pseudo-notícia, aliás, cujo título, enganador e absolutamente fora daquilo a que o Público me habituou em termos jornalísticos, me faz perder a cabeça no Twitter. "Isto não pode ser verdade!", e não era, como um generoso grupo de pessoas veio a perceber rapidamente. Estou sentado no meu carro no meio do largo da aldeia onde resido, acabei de tomar café e preparo-me para regressar a casa. Seria relativamente fácil reconstituir o fluxo de tweets desse momento mas não o farei, seria exaustivo e monótono. mas não há-de ser pouca a importância que esse caldo social e ideológico há-de vir a ter na questão Ensitel. Não é novidade para quem me segue que a conjuntura do país em matéria política, me tem vindo gradualmente a fazer perder a tramontana e que eu, aos poucos, estou a sentir cada vez mais uma necessidade brutal de agir, deixando de lado o tradicional choradinho português. A conversa evolui, passamos a alguns exemplos de escândalo e pouca-vergonha das actualidades económicas do país, troco observações cáusticas com quem me diz "Não me apetece agir" ou "Já perdi a fé". No actual estado de coisas, este tipo de afirmação iririta-me de sobremaneira e é neste momento que, antes de regressar a casa, escrevo algo como "Da última vez que as pessoas estavam mais preocupadas em sobreviber do que em agir foram apenas 48 anos...".

Talvez ninguém tenha percebido (eu mesmo levei algum tempo a percebê-lo), mas foi este o momento decisivo no lançamento do episódio Ensitel.

Este botão aqui? O que diz Big Bang?

Já estou sentado no meu pequeno arremedo de escritório caseiro, interrompi uma longa diatribe política e social e é neste momento que Maria João Nogueira lança a primeira pedra deste edifício social.



Conheço a história de todo o processo descrito por Maria João Nogueira em relação ao mal afortunado Nokia E71. Devo aliás esclarecer que já era leitor ocasional do seu blog ainda antes mesmo de a conhecer pessoalmente. Tudo o que obtive de conhecimento deste conflito de consumo foi das descrições feitas no blog, e uma vez, uma única vez, trocámos algumas impressões sobre o assunto. Quando o Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo lhe não deu razão, telefonei-lhe e disse-lhe que, no seu lugar, haveria de prosseguir a demanda e lançar a discussão noutros níveis da Justiça. Ouvi-a dizer-me que não valeria a pena, que os custos envolvidos seriam sempre superiores aos ganhos e aceitei a opção. Não sem antes a ter aconselhado a ouvir uma segunda opinião jurídica, aconselhando-lhe um nome, um nome que haveria, durante esta crise, de ser o meu grilo falante em matéria de aconselhamento. Maria João Nogueira decidiu, estava decidido. Assunto morto e enterrado. Até aquele exacto instante em que me informa (e toda a sua timeline) do ressuscitar do assunto. Era uma oportunidade. Aliás, era A oportunidade. O pequeno agitador dentro de mim, mexeu-se. Era tempo de fazer alguma coisa e reverter o assunto ao que deveria ter sido e não fora.

Dêm-me um RT e conquistarei o mundo

Decorrida quase uma semana desta novela, já li escritas, pela mão de profissionais de PR ou de meros curiosos opinadores, muitas teorias sobre a preparação desta acção. I've got news for you, sunshine! Não houve preparação. Zero! Zilch! Népia! Néribi! Nem um segundo foi dedicado à questão. Tudo decorre a partir deste momento com uma fortíssima base emocional e nenhuma premeditação. Tomado de raiva pura, escrevi um Tweet.



Poucos, muitos poucos minutos bastaram para que chovessem RT's (O RT é uma forma de um utilizador Twitter replicar o que alguém previamente disse, multiplicando o efeito de amplificação de uma singela dose de 140 caracteres). Múltiplas perguntas tombaram na minha timeline: "Porquê isso?" ou "O que se passou?" e tive de improvisar uma forma de resposta, indicando o último post de Maria João Nogueira como referência para que as pessoas começassem a perceber o que se passava. A prova maior da impreparação deste momento é o facto de eu, nesta altura, não ter ainda sequer lido esse post que resumia o avanço da Providência Cautelar interposta pela Ensitel. Haveria de o fazer mais tarde, com o meu "grilo falante" jurídico a soprar-me alguns sábios conselhos ao ouvido: "Tu não sabes em que termos ela foi interpelada... Tu não sabes o teor da Providência...". Sim, não a conhecia na íntegra, mas conhecia a história do processo anterior e acima de tudo, queria vingança e confiava na posição de Maria João Nogueira, que em todo este enredo nunca quis mais do que contar a sua experiência sem almejar mais nada que não a expressão do que verdadeiramente sentia. E que diabo! A Providência Cautelar era, a meu ver, um insulto e uma ameaça à liberdade de expressão. Eu conhecia os textos, eu confiava que a Providência não haveria de ser deferida. Mas também sei, por experiência própria, que a cabeça de um juiz é um local complexo (que não invejo...) e que algo poderia correr verdadeiramente mal na defesa desta posição.

À medida que o tempo foi passando (e estamos a falar de meras horas), a onda foi crescendo. A onda de RT's estava altíssima, pouco mais fiz que redireccionar pedidos de informação sobre o que estava a acontecer. Apesar de estar a assistir a um autêntico assalto da timeline por parte da tag (marcador, referência) #Ensitel não tinha sequer noção do que estaria a acontecer algumas horas depois.


Social Networking Showtime!

A onda extravasa o Twitter. Perto da meia-noite há quem me diga que a página de FaceBook da empresa já foi localizada e visito-a para deixar um comentário. Fi-lo, sem me alargar muito em considerandos, felicitando-os com ironia pela Providência Cautelar. Não gasto mais de três linhas e contabilizo cinco comentários agrestes. A página tinha 365 "likes" nessa altura, número que considerei normal. Já não estou sozinho nesta luta. Há coisas a decorrer em paralelo. Surge um grupo hostil à empresa no Facebook que ganha volume a cada minuto que passa. Tenho múltiplas ofertas de ajuda. Há jornalistas activos no Twitter a recolher informação sobre o que está a acontecer à frente dos nossos olhos. Sou contactado por um deputado, a quem informo e que presta solidariedade. Durante duas horas não troco com Maria João Nogueira uma palavra que seja, pois imagino que também ela estará deveras atarefada a acorrer a todas as solicitações que está também a receber. Uma consulta à timeline dela permite-me perceber que não é apenas apoio. Há também conversas menos pacíficas de pessoas que colocam em causa a sua posição, que a acusam (sem perceberem os motivos do conflito), e a atacarem a sua honra. É o caldeirão social a ferver e há sempre quem se possa salpicar.

Há, nestas horas de frémito e agitação, alguns momentos importantes. O primeiro, importante para mim, que ganho consciência da real dimensão do fenómeno. A página de Facebook da Ensitel tem montado um verdadeiro circo (não tão chocante como o que haverá de se instalar nos dias subsequentes...). Assusto-me. Assusto-me com o número de pessoas que lhe está a aceder, há-de passar os mil e quinhentos por volta da uma da manhã e assusto-me com a possibilidade de em vez de estar a defender a posição da Maria João, a estar a empurrar para um confronto que ela pode não desejar. Sou o primeiro a vacilar e a pensar que se está a criar um monstro do qual ninguém pode ou quer cuidar (e mesmo que quiséssemos não saberíamos como...). Nós não conversámos sobre isto, nós não concertámos qualquer estratégia, tudo isto está a acontecer em roda quase livre e pode ser perigoso para qualquer de nós, mas principalmente para ela que tinha há duas horas um problema "quente" e que agora viu subir ainda mais a temperatura...

Surgem os primeiros artigos online, da autoria de jornalistas que acompanharam os primeiros passos do assunto. Ao estilo "Wikileaks", começa a sugerir-se a criação de mirrors, capazes de multiplicar na Web a presença dos textos que a Ensitel queria ver eliminados. Poderão sê-lo num só site, mas a Ensitel vai ter muito trabalho para mandar apagar centenas de outros exemplares que estão a fazer-se anunciar em múltiplos outros locais, oferecidos pelos seus proprietários, que anunciam ferramentas, modos de criar o seu próprio mirror.

Estou preocupado e já não são horas de lhe ligar, muito embora tenha percebido que está de férias...

Durante alguns minutos divirto-me a observar algumas tentativas de lobbying sobre utilizadores Twitter de alto poder de influência. Já são bastantes as pessoas que tentam chamar a atenção desses utilizadores para a situação. Observo, sem me manifestar, uma tentativa de abordagem ao Paulo Querido para que este use a sua vastíssima rede de contactos e se pronuncie sobre o assunto. A expressão "divirto-me" não é aqui totalmente inocente. Sei que a relação do Paulo com a Maria João não é pacífica, dou comigo a pensar que será um milagre que este se envolva no assunto. Ele, diplomaticamente, esquivar-se-á a fazê-lo, mas há-de, mais tarde, perceber que poderia ter apanhado o comboio desta questão. Não é o único, os "pesos-pesados" do jornalismo presentes na rede tomam precauções e cuidados antes de perceberem se o terreno que pisam é seguro. Paulo Querido, há-de, bastante tempo mais tarde, aproveitar o assunto e redigir um artigo que considerei brilhante, por ser a única pessoa que fugindo à actualidade do tema, lhe analisa algumas questões sociológicas inerentes. Leiam-no e nele encontrarão a chave para a explicação de certos fenómenos.

Caos, desordem e tragédia: O meu trabalho está feito

É quase uma da manhã, não páro de receber mensagens que me dão conta de apoios solidários e mais e mais links para despachos noticiosos referentes ao assunto. Cada um deles que é publicado gera novas ondas de mensagens directas ou SMS. Ao mesmo tempo a minha preocupação em ter precipitado este assunto não pára de aumentar. Decido mandar uma mensagem à Maria João, vou precisar de saber se estamos na mesma onda. Não lho pergunto directamente. O meu papel é ajudar, esta luta não é propriamente minha, não quero que possa parecê-lo, não pode parecê-lo, apenas proporcionar que as coisas venham a acontecer na direcção certa. É importante passar a mensagem de que tudo o que está em causa são as publicações dos textos e nada mais, um factor que de quando em vez é levantado por algumas vozes adversárias do objectivo. Luta-se pela liberdade de expressão, não se luta por mais nada. É por isso que lhe menciono a importância de replicar os mirrors, muito embora a maioria das pessoas se limite a estabelecer links para os mesmos. Quando, finalmente, me vou deitar, vou medianamente satisfeito, com a esperança de que se tenha construído um movimento de oposição à Providência Cautelar.

Oh Captain, my captain!

A manhã de Terça Feira é para mim uma manhã profissional agitada, não tenho praticamente tempo para estar online. Certifico-me de que a confusão continua instalada no Twitter e registo com agrado que há uma batalha campal muda na página do Facebook. A empresa reagiu (finalmente) e a maioria dos comentários publicados durante a noite foi liminarmente apagada. Congratulo-me com isso mesmo. Esse apagamento era desejado (espanto-me que não tenha ocorrido mais cedo), mas é ele mesmo que há-de insuflar nesta questão um fôlego adicional. A maioria dos novos artigos online há-de referir-se a essa decisão e as pessoas vão reagir de forma ainda mais quente e agressiva a um gesto que claramente tomam como afronta pessoal. É o caos que se instala nos comentários. O absoluto caos, o que me faz pensar que não conhecemos bem as componentes humanas de uma sociedade até podermos ler uma flame war com centenas de participantes. Chegam-me notícias de várias partes. Alguma contra-informação que chega por vezes a surpreender-me, mas que valido e certifico. O número de "likes" da página de Facebook subiu inacreditavelmente e está bastante acima dos dois mil utilizadores. É obra. São onze e meia da manhã e escrevo um post sobre o tema, texto que há-de ser muito bem recebido e profusamente linkado. Nele aponto uma solução que há-de vir a revelar-se 100% certeira. É a única saída para uma crise tremenda. Nenhuma dos chamados "Social Media Experts" apontara caminhos ou soluções. Apenas os erros. Assumir prognósticos é lixado. Um tipo falha e adeus reputação. Também aponto os perigos que a Ensitel corre em deixar correr o marfim: Os media tradicionais vão pegar no assunto. Confirmam-se várias peças televisivas. Rádio. Jornais, valha-me Deus, o Expresso publica um artigo cujo título me arrepia. Tenho pena de estar a acertar em todas as previsões. Ou não. Já não sei. Cheira a pólvora por todo o lado. Vejo pelas imagens televisivas que a Maria João parece serena. Parece. É dos livros que o fraco tem de se fazer forte quando tem as câmaras apontadas. Been there, done that! Tenho mesmo de falar com ela.

Não chego a fazê-lo de imediato. O meu telefone toca. Um dos capitães da indústria telefónica móvel, pessoa que apenas conheço de nome, está do outro lado da linha. Apresenta-se. Quer saber pormenores da "operação de assassinato" da Ensitel. Dá-me alguma vontade de rir que alguém possa pensar que temos um exército alinhado de um dos lados... Esclareço posições, adianto que se pretende a retirada incondicional da Providência Cautelar, mas que está a falar com a pessoa errada, pois a vítima não sou eu e passo-lhe os contactos da Maria João. A mim não me cabe tomar qualquer decisão.

Outra figura importante desta mesma indústria falará comigo logo de seguida. Confidenciar-me-á que desde a noite anterior segue a situação e que a mesma está a servir de aula prática para as linhas de apoio e gestão de Facebook da companhia para a qual trabalha. Sei que tem boas relações com a empresa em causa. Sugiro-lhe que faça chegar a mensagem da retirada da Providência. No momento actual (como em quase todos os outros momentos) um bom acordo é preferível a uma má demanda... O meu parceiro de diálogo não crê ser possível que a mensagem passe. Temos pena, mas a porta fica aberta. "Consigo sentar os dois, se ambos se quiserem sentar". Retenho uma última frase: "Não pensei que alguma vez fosse possível que uma simples linha tua pudesse causar tanto estrago...". Eu também não, mas não consigo convencer ninguém disso.

A Ensitel reage oficialmente com um comunicado duro para as pretensões de quem se manifesta... É claramente uma tomada de posição que não deixa margem para grandes dúvidas. Será nos tribunais que a questão se discutirá. Que se afiem os machados.


We few, we happy few, we band of brothers

Maria João anuncia publicamente que vai reunir durante a tarde com a sua advogada. É quanto me basta para pegar no telefone e falar com ela. Não fico nada satisfeito com o que encontro no ânimo do outro lado. Parece cansada, ansiosa, apreensiva. Tenho medo que ela tenha medo. Não é para menos. Tento incutir-lhe algum ânimo. Quero saber pormenores. Datas. Se for preciso convocar gente para a porta do tribunal, farei isso. Brincamos, desanuvia-se um pouco. Traço-lhe cenários, tento explicar-lhe quais são as alternativas, que não vale a pena recear as coisas que ainda não foram decididas. Que tenho uma fé imensa que o tribunal não deferirá a Providência. Mas eu sei que ela tem lido o que eu tenho lido. A maioria das vozes relevantes da blogoesfera já percebeu que esta ruidosa campanha há-de enfraquecer um destes dias (e ambos sabemos que não é fácil manter a chama acesa...) e como alguém sabiamente escreveu "Haverá um dia em que aqueles que agora apoiam esquecerão o assunto e voltarão para as suas vaquinhas no Farmville, deixando-a, como no início, sozinha". É preciso que ela não acredite nisto, mas ambos sabemos que é difícil. Um dos cenários que antecipamos é o da luta judicial subsequente à Providência Cautelar. A Providência é apenas uma ferramenta que pressupõe um processo-crime. Poucos saberão disto, mas é um facto. Tenho dito e repetido no Twitter que este processo ainda agora começou, que vai ser longo e duro. Ela também sabe disto. Tenho de lhe colocar uma questão difícil: "Ofende-te se se abrir uma subscrição para seres ajudada nas custas e honorários deste processo?". Sei que não tem sido fácil convencê-la a fazê-lo e a resposta não me surpreende de modo algum: "Se perder vou andar a trabalhar uma vida inteira para pagar. Vivo do meu trabalho". Que tens de pensar nisso. "Está bem".

Sic transit Gloria Mundi

Na Quarta Feira estão consolidadas quase todas as exposições na Comunicação Social. Só uma cadeia de Televisão fica de fora. A minha "voz" de consciência jurídica não está muito satisfeita com a prestação mediática. "Que pode ser prejudicial. Que pode ampliar o grau da pretensa difamação". Compreendo a posição, mas é um tour-de-force que eu não desdenharia se me fosse dada a oportunidade. O Circo Social da página de Facebook da Ensitel está ao rubro. É O nojo, e o nojo está incontrolável (nunca julguei a inversa...). A empresa emite um novo comunicado em que "comunica não ter nada a acrescentar" ao comunicado anterior.

Surgem no meu horizonte novas preocupações. Da análise dos textos jornalísticos escritos, bem como das peças televisivas, ressalta uma enorme confusão entre aquilo que é um conflito pessoal e o posto profissional que Maria João ocupa. Em termos públicos estão a erguer-se algumas vozes que insinuam que é o posto profissional que está a obter resultados. Há uma tendência crescente de intoxicação, proveniente por vezes de órgãos de Comunicação Social e pessoas de quem não esperava golpes baixos deste género. Se socialmente temos de estar preparados para ler de tudo, jornalisticamente causa-me alguma impressão... Ou estarei a sofrer de alguma paranóia se disser que em termos dessa promiscuidade individual/profissional quem pior tratou Maria João Nogueira foi um jornal pertença de um grupo económico manifestamente hostil à empresa para qual ela trabalha?

Vozes ao alto, vozes ao alto, unidos como os dedos da mão

Trocamos algumas mensagens durante o dia de Quinta Feira. Por serem mensagens escritas não faço juízos de valor do seu ânimo. Mas não deixo de lhe adiantar as preocupações surgidas na véspera sobre as possíveis repercussões deste assunto na esfera profissional. Que posso estar tranquilo que ela própria está tranquila. Toda a gente informada e completo apoio. Maria João está "como o aço" e pronta para o que por aí vier.

Hei-de saber mais tarde, que neste mesmo dia, Maria João Nogueira, (que, recordo, estava em período de férias), precisou de se deslocar ao seu local de trabalho, um enorme open space das instalações do SAPO, foi recebida com uma sonora salva de palmas. Deve ter feito mais pelo ânimo que uma semana de férias adicional. Gesto bonito e reconfortante por parte das pessoas com quem trabalha.

Esta Quinta Feira é o dia em que procuro mais soluções e combustível para manter a pressão na caldeira do protesto. Não é fácil continuar a encontrar pontos onde a força pode continuar a ser feita. Surgem algumas ideias, mas algumas são inexequíveis, outras simplesmente excêntricas demais para poderem funcionar. Recebo os primeiros pedidos de ajuda para colaborar no convencimento de Maria João na abertura de uma conta de donativos. É uma decisão dela, fico na expectativa da sua decisão. Se bem a conheço, e depois da nossa conversa anterior, não vai ser uma decisão fácil, mas é ela que a tem de tomar.

When the Going Gets Tough, the Tough Get Going

A minha noite profissional de Quinta Feira é um pesadelo, e só volto a olhar para um ecrã na manhã de Sexta Feira. E faço-o para descobrir que

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